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Bombou no g1: fruta que é símbolo de resistência no Cerrado virou brasão de cidade e nome de escola de samba

Tradição em Paraguaçu, Marolo inspira no artesanato e na culinária Fruta mole, significado de Marolo, descreve o aspecto de um fruto que representa a resist...

Bombou no g1: fruta que é símbolo de resistência no Cerrado virou brasão de cidade e nome de escola de samba
Bombou no g1: fruta que é símbolo de resistência no Cerrado virou brasão de cidade e nome de escola de samba (Foto: Reprodução)

Tradição em Paraguaçu, Marolo inspira no artesanato e na culinária Fruta mole, significado de Marolo, descreve o aspecto de um fruto que representa a resistência do cerrado e foi lembrado em reportagem do Terra da Gente em abril de 2025. Ao longo de dezembro, o g1 revisita as histórias curiosas - e reais - publicadas em 2025. Veja o vídeo acima e leia o texto abaixo. Com nome de origem guarani que significa “fruta mole”, o marolo (Annona crassiflora) é um daqueles presentes raros da natureza que carregam história, tradição e um aroma inconfundível. Também conhecido como araticum, bruto, cascudo ou pinha-do-cerrado, o fruto pertence à família das anonáceas, a mesma da graviola e da pinha, e é encontrado especialmente no Cerrado brasileiro. “É uma fruta muito querida por quem cresce em regiões onde ela nasce espontaneamente. O cheiro é forte, doce, inconfundível. Quem conhece, nunca esquece”, diz a botânica Carolina Ferreira. Símbolo de identidade Marolo é fruto típico de Paraguaçu (MG) João Camilo Na cidade de Paraguaçu (MG), o marolo é mais que uma fruta: é símbolo de identidade. Apesar de já ter sido desprezada durante o auge da produção de café – quando muitos pés foram arrancados – a planta voltou a ganhar destaque nos anos 80, com o renascimento do orgulho local e o surgimento da tradicional Festa do Marolo. “Ser chamado de ‘maroleiro’ já foi ofensa, sinônimo de caipira sem ambição. Hoje, é motivo de orgulho. O marolo virou símbolo no brasão da cidade e até nome de escola de samba”, conta Carolina. Características O marolo pertence à família das anonáceas, a mesma da graviola e da pinha, e é encontrado especialmente no Cerrado brasileiro Thomaz Ricardo Favreto Sinani/iNaturalist A polpa do marolo é amarelo-clara, espessa, macia e tem um sabor que lembra o doce de frutas tropicais com um toque terroso. O aroma forte pode causar estranhamento para quem nunca provou, mas é exatamente esse cheiro marcante que dá identidade à fruta. Por fora, os frutos são cobertos por pequenos pelos marrons-avermelhados que desaparecem à medida que amadurecem. Outro traço curioso está nas flores: grandes, com pétalas carnosas que se abrem à noite. “As flores são classificadas como termogênicas, uma vez que há um aquecimento no interior da flor que pode chegar até 10 graus acima da temperatura ambiente – o que atrai os besouros”, explica Carolina. Onde nasce o marolo? A árvore pode atingir de 4 a 8 metros de altura e começa a frutificar entre o quarto e o quinto ano após o plantio Kfp/iNaturalist O marolo cresce naturalmente nos cerrados do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, incluindo Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Maranhão, Tocantins, Pará, Bahia e Piauí. Adaptado aos solos ácidos e pobres em nutrientes, a planta se desenvolve bem em regiões de clima tropical, com solo profundo e bem drenado. Para quem deseja cultivar, o ideal é plantar as mudas no início da estação chuvosa, regar diariamente nas duas primeiras semanas e, depois disso, duas vezes por semana. A árvore pode atingir de 4 a 8 metros de altura e começa a frutificar entre o quarto e o quinto ano após o plantio. Marolo na cozinha: uma explosão de sabores Marolo pode ser consumido in natura ou usado em receitas como licores, doces, tortas, geleias, sucos, sorvetes e iogurtes Reprodução/EPTV Versátil, o marolo pode ser consumido in natura ou usado em receitas como licores, doces, tortas, geleias, sucos, sorvetes e iogurtes. Em Paraguaçu, a criatividade dos cozinheiros transformou a fruta em estrela de receitas que passam de geração em geração. Nutrição, medicina popular e... atenção aos excessos Além do sabor exótico, o marolo oferece benefícios nutricionais importantes. A fruta contém vitaminas A, C, E e do complexo B, além de ferro, fósforo, cálcio, fibras e lipídeos. Na medicina popular, suas folhas e sementes são usadas em infusões para tratar reumatismo, sífilis e diarreia, além de combater patologias no couro cabeludo. No entanto, a botânica Carolina Ferreira faz um alerta: “Estudos apontam efeitos tóxicos em algumas partes da planta, então o uso medicinal deve ser feito com cuidado. Ainda faltam ensaios clínicos que comprovem segurança e eficácia”. O marolo corre perigo? O marolo oferece benefícios nutricionais importantes, como vitaminas A, C, E e do complexo B, além de ferro, fósforo e cálcio Rosa Cartagenes/iNaturalist Embora ainda não esteja oficialmente listado como espécie ameaçada, o marolo vive sob risco constante. “O avanço das monoculturas e a destruição do Cerrado são grandes ameaças à sua existência”, alerta Carolina. Sem incentivo à plantação comercial em grande escala, a colheita ainda é feita de forma extrativista e informal, limitando seu potencial econômico. Apesar disso, há esperança. Segundo a Universidade Federal de Lavras, o marolo tem potencial para movimentar mercados locais, desde que haja pesquisa, incentivo e políticas públicas que garantam o plantio sustentável e o envolvimento das comunidades. Um futuro doce como o sabor do marolo Adaptado aos solos ácidos e pobres em nutrientes, a planta se desenvolve bem em regiões de clima tropical Eric Fischer Rempe/iNaturalist De flor termogênica a símbolo cultural, de medicina popular a sobremesa requintada, o marolo é uma joia do Cerrado ainda pouco explorada. Proteger essa fruta e todo o ecossistema ao seu redor é preservar não só uma espécie, mas uma herança viva da biodiversidade e da cultura brasileira. Como diz Carolina Ferreira: “O marolo é resistência, sabor e história em forma de fruta. E merece muito mais do que um papel de coadjuvante”. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

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