Melhor temporada de caboclinhos movimenta observadores em Pouso Alegre, MG
Melhor temporada de caboclinhos movimenta observadores em Pouso Alegre, MG A temporada dos caboclinhos em Pouso Alegre (MG) já começou e, nas últimas semanas...
Melhor temporada de caboclinhos movimenta observadores em Pouso Alegre, MG A temporada dos caboclinhos em Pouso Alegre (MG) já começou e, nas últimas semanas, o Terra da Gente recebeu diversos registros de telespectadores encantados com a presença dessas pequenas e charmosas aves granívoras. De outubro a novembro, diversos bandos têm sido observados principalmente na região conhecida como retão do Brejal, uma das áreas mais importantes para as espécies migratórias na passagem rumo ao Sul do país. Caboclinho-de-barriga-vermelha (Sporophila hypoxantha) José Nélio A movimentação tem atraído fotógrafos, pesquisadores e apaixonados por natureza de várias partes do Brasil, todos em busca da oportunidade de acompanhar esse fenômeno natural que se repete ano após ano. Por que os caboclinhos aparecem em Pouso Alegre? Nesta temporada, as sete espécies de caboclinhos que passam pela região já foram registradas José Carlos Reis Segundo o pesquisador Márcio Repenning, que estuda os caboclinhos há anos, a presença das aves em Pouso Alegre é um padrão esperado e está diretamente ligada ao início das chuvas. É justamente nesta época que uma grande diversidade de gramíneas e ciperáceas, plantas herbáceas de porte baixo, semelhantes aos capins e muito comuns em áreas úmidas, entra no auge da frutificação. Esse processo cria uma espécie de “banquete natural” para os papa-capins que seguem viagem rumo ao Sul. Caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster) Regina Manzur “As chuvas e o fotoperíodo – quantidade de horas de luz ao longo do dia, que funciona como um sinal biológico para muitas plantas – sincronizam a maturação dos capins. Como os caboclinhos preferem sementes ainda nas espigas, eles param na região para aproveitar essa fartura”, explica Repenning. A fartura de alimento também é percebida pelos observadores. José Nélio, morador de Pouso Alegre e frequentador assíduo da área, acompanha a passagem das aves há mais de dez anos. “A região está muito propícia, com abundância de sementes e água de boa qualidade. Essa temporada considero uma das melhores”, conta. Caboclinho (Sporophila bouvreuil) José Nélio Comparação com Indaiatuba e a importância dos registros No ano passado, o Terra da Gente esteve em Indaiatuba (SP) para gravar uma reportagem sobre o monitoramento dos caboclinhos. A área, que também recebe as aves todos os anos, compartilha algumas semelhanças com Pouso Alegre, como a produção intensa de sementes no mesmo período. Porém, segundo Repenning, as diferenças também chamam atenção. Caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris) José Carlos Reis “Em Pouso Alegre, a variedade de capins nativos em zonas úmidas cria condições excepcionais para as espécies. Já em Indaiatuba, as manchas de vegetação frutificando se concentram principalmente na faixa de domínio da linha férrea, onde o manejo inadequado, como roçadas frequentes, pode reduzir a disponibilidade de alimento. Esse acompanhamento só é possível graças ao esforço conjunto de pesquisadores e observadores”, explica o biólogo. De acordo com Repenning, a ciência cidadã vem desempenhando um papel fundamental, pois ajuda a identificar os locais exatos usados pelas aves, a monitorar o período de chegada e partida, a entender variações entre temporadas e até a responder perguntas sobre comportamento migratório. Este ano, observadores conseguiram registrar em Pouso Alegre alguns caboclinhos anilhados em outubro de 2024 pelos pesquisadores Márcio Repenning e Mariana Lopes Gonçalves José Carlos Reis Este ano, observadores conseguiram registrar em Pouso Alegre alguns caboclinhos anilhados em outubro de 2024 pelos pesquisadores Márcio Repenning e Mariana Lopes Gonçalves. Entre esses registros está o do fotógrafo José Carlos Reis, de Alfenas, que conseguiu identificar dois indivíduos marcados no ano passado, evidenciando que as aves refizeram a rota migratória e retornaram ao mesmo ponto de parada em 2025. Caboclinho-coroado (Sporophila pileata) Regina Manzur Movimento intenso de observadores A movimentação de fotógrafos e amantes de aves tem sido intensa. O guia Wagner Loureiro relata dias em que cerca de 20 pessoas estiveram no Brejal em busca dos pequenos granívoros. “Os caboclinhos realmente atraem. Já tivemos visitantes que vieram mais de dez vezes só nesta temporada”, comenta. Segundo ele, a chegada das aves anima o grupo local todos os anos. “No início da primavera, os observadores já começam a falar deles. Eles chegam com plumagem discreta, cansados da viagem. Depois, comendo e descansando, começam a trocar as penas e ficam lindos”. Caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea) José Carlos Reis Nesta temporada, as sete espécies de caboclinhos que passam pela região já foram registradas. Entre elas estão: caboclinho-de-papo-branco, caboclinho-coroado, caboclinho-de-barriga-preta, caboclinho-de-chapéu-cinzento, caboclinho-de-barriga-vermelha, caboclinho e o caboclinho-de-papo-escuro, este último o mais difícil de encontrar. Segundo Wagner, das sete espécies, o caboclinho-coroado é o que costuma permanecer na área por mais tempo para reprodução, ficando até o início de abril. Caboclinho-de-papo-escuro (Sporophila ruficollis) Jairo Silva A observadora Regina Manzur, de Paulínia, viajou até Pouso Alegre no início de novembro para tentar encontrar o caboclinho-de-papo-escuro, única espécie que ainda não conseguiu registrar. Apesar de não localizar o desejado, ficou impressionada com a variedade. “Comparando com Indaiatuba, foi aqui que mais vi caboclinhos, tanto em quantidade quanto diversidade”, destaca. “É um espetáculo que vale cada visita”, conclui o observador Jairo Silva. Os caboclinhos chegam em Pouso Alegre com plumagem discreta, cansados da viagem, mas depois começam a trocar as penas Lua Souza VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente